terça-feira, 24 de abril de 2012

Síndrome de Irlen - um esclarecimento


Visão, aprendizagem e a Síndrome de Irlen



O ato de aprender é próprio do ser humano, porém a qualidade e a quantidade dos novos saberes dependerão muito dos estímulos recebidos e principalmente da eficácia de cada um deles. Grande parte desses fatores de influência são originários do meio social, no qual o indivíduo está inserido, porém há que se considerar limitações físicas ou predisposições pessoais que cada um carrega em seu próprio código genético (FONSECA, 2004).





Estima-se que cerca de 85% de tudo o que aprendemos ou assimilamos do ambiente, bem como o desenvolvimento normal sensorial e motor, dependem de nossas habilidades visuais nos primeiros seis meses de vida (ATKINSON, 2000 e SHOR, 1989).
São vários os transtornos, síndromes e déficits que dificultam a aprendizagem, dentre os quais estão os distúrbios de aprendizagem relacionados à visão, que correspondem a uma dificuldade na manutenção da atenção, compreensão e memorização e à atividade ocular durante a leitura, levando a um déficit de aprendizado. Tais distúrbios afetam indivíduos de todas as idades, com inteligência normal ou superior à média e está relacionada a uma desorganização no processamento cerebral das informações recebidas pelo sistema visual. O esforço despendido nesse processamento, torna a leitura mais lenta e segmentada, o que compromete a velocidade de cognição e a memorização.
Um desses distúrbios de aprendizagem relacionados à visão é a Síndrome de Irlen (SI), que se caracteriza por dificuldades de processamento cerebral das informações visuais, causadas pela sensibilidade a determinados comprimentos de ondas de luz espectral visível ao olho humano (IRLEN, 1991). Tal disfunção perceptual apresenta seis manifestações principais: fotossensibilidade (sensibilidade aumentada a luz), desfocamento à leitura com distorções visuais, restrição do campo visual periférico, dor de cabeça, dificuldade de adaptação a contrastes e na manutenção da atenção. Alguns sintomas físicos recorrentes são: lacrimejamento, coceira e ardência ocular, esfregar os olhos constantemente, tampar/fazer sombra nos olhos enquanto lê, apertar e piscar os olhos excessivamente, balançar ou tombar a cabeça, cansaço após 10 a 15 minutos de leitura e leitura na penumbra.(GUIMARÃES, 2009)
A Síndrome de Irlen pode afetar além da leitura, outras áreas variadas da vida do indivíduo. A sensibilidade à luz pode causar desde simples incômodos em determinados ambientes ou circunstâncias, até prejuízos em habilidades, tais como: prática de esporte com bola, coordenação motora fina e grossa, habilidades musicais, coordenação espaço temporal, dentre outras (IRLEN, 1991).
Um indivíduo mesmo que com a acuidade visual dentro dos padrões de normalidade (ou seja, enxergando bem) tem chances de ser portador da síndrome, já que se trata de uma disfunção da percepção e não uma patologia ligada diretamente aos olhos. Ela está relacionada a déficits na codificação e decodificação das informações visuais pelo sistema nervoso central (AMEN, 2004). É necessário um diagnóstico diferencial por profissionais especializados, uma vez que não pode ser detectada através de exames oftalmológicos de rotina, nem por testes padronizados para verificação de dificuldades de aprendizagem (IRLEN, 1991).
De forma simplificada, a Síndrome de Irlen se manifesta da seguinte forma:





A população afetada pela Síndrome de Irlen se resume em 12-14% da população geral, superdotados e bons leitores; 46% de indivíduos com déficits específicos de aprendizagem e leitura; 33% dos casos de TDA e TDAH, Dislexia e comportamentais e 55% dos indivíduos com traumatismos cranianos, concussões, lesão contragolpe, etc (GUIMARÃES, 2009).
O protocolo de diagnóstico da Síndrome de Irlen é realizado através de uma abordagem multidisciplinar, com contribuição de diversas áreas, como: oftalmologia, psicologia, psicopedagogia, fonoaudiologia e terapia ocupacional. Tal protocolo envolve entrega de questionários caracterização e habilidades acadêmicas, anamnese, exames oftamológicos específicos, screening (avaliação para constatação de distorções visuais no processo de leitura pela metodologia Irlen) e diagnóstico do padrão de leitura avisando intervenções psicopedagógicas, oftalmológicas, neurológicas, etc.
O Método Irlen de tratamento oferece aos portadores da Síndrome de Irlen diminuição da sintomatologia ou em alguns casos sua eliminação completa. É válido ressaltar que não se trata de intervenção medicamentosa, nem invasiva, mas sim propõe dois tipos abordagem (IRLEN, 1991):
1. Uso de overlays – lâminas de sobreposição. Objetivos: proporcionar conforto, nitidez, estabilidade e fluência durante a leitura. Tratamento proposto pelo atual projeto.
2. Filtros de bloqueio espectral (em óculos ou lentes de contato) – prescrição exclusiva de oftalmologista.
Hoje o método Irlen de tratamento vem sendo utilizado em quarenta e dois países e em mais de quatro mil instituições de ensino. Nos Estados Unidos uma resolução adotada em Julho de 2009, durante a Assembléia Geral de NEA – National Education Association, que agrega aproximadamente 3 milhões de trabalhadores na área da educação foi aprovada a proposta de que todos os seus membros sejam informados sobra a Síndrome de Irlen e seu tratamento. Outros locais aonde os testes já vem sendo aplicados como de rotina são: Austrália e Reino Unido (GUIMARÃES, 2009).
No Brasil, a Síndrome de Irlen é conhecida há apenas quatro anos através de cursos oferecidos pela Fundação do Hospital de Olhos de Minas Gerais, em módulos teórico-práticos sobre a metodologia de diagnóstico e tratamento. A rede de profissionais capacitados é composta por cerca de 530 profissionais de diversas áreas da saúde e educação. Esses indivíduos capacitados são conhecidos como screeners em 16 estados brasileiros


Para maiores esclarecimentos no Rio de Janeiro:  
Cecília Inocêncio
Contato: cecilia@ceciliainocencio.com.br                    
                                                                                   
                           

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Sobre o arrependimento...


"Desconstruir crenças absolutistas sobre si mesmo, sobre o mundo e sobre o outro, abandonar a ditadura dos "deverias" e do perfeccionismo faz a vida de qualquer um mais leve e feliz.  Saber lidar com suas limitações e enxergar suas potencialidades traz de volta a alegria de viver para jovens e idosos...  E quanto mais cedo melhor.    Claudia Marinho"





Saber lidar com o arrependimento promove velhice saudável

Pesquisa mostra que jovens e idosos depressivos não lidam bem com o resultado de suas escolhas. Mas só entre os mais novos isso traz benefícios

idoso
Idoso emocionalmente saudável lida melhor com os próprios erros. (Thinkstock)
Envelhecer de modo saudável está diretamente ligado à capacidade de lidar com o arrependimento. Quando uma pessoa é jovem, se arrepender de uma escolha pode ajudá-la a tomar melhores decisões no futuro. No entanto, a partir de certa idade, as oportunidades de desfazer escolhas ruins diminuem, e já não há mais tantos benefícios em remoer seus próprios erros. Essa é a conclusão de uma pesquisa publicada na revista Science, liderada pela neurocientista Stefanie Brassen, do Centro Médico da Universidade Hamburg-Eppendorf. 
CONHEÇA A PESQUISA

Título original: Don’t Look Back in Anger! Responsiveness to Missed Chances in Successful and Nonsuccessful Aging

Onde foi divulgada: revista Science

Quem fez: Stefanie Brassen; M. Gamer; J. Peters; S. Gluth; C. Büchel

Instituição: Centro Médico da Universidade Hamburg-Eppendorf

Dados de amostragem: 21 jovens, 20 idosos depressivos e 20 idosos saudáveis

Resultado: Os jovens e os idosos depressivos tiveram a mesma reação de arrependimento quando viram o resultado de suas escolhas erradas. Já os idosos saudáveis não se arrependeram, pois criaram estratégias mentais para não se sentir responsáveis pelos erros.
A equipe de cientistas usou imagens de ressonância magnética para comparar a atividade cerebral de dois grupos distintos: 21 jovens de aproximadamente 25 anos e 40 idosos com mais de 65. Entre os mais velhos, metade era emocionalmente saudável e metade sofria de depressão. Todos os participantes tiveram de jogar umgame de computador no qual abriam uma série de caixas.
Dentro dessas caixas eles podiam encontrar moedas ou um desenho do demônio. Seu objetivo era juntar a maior quantia de dinheiro possível, mas toda vez que o demônio aparecia, ele retirava todas as moedas do voluntário e encerrava o jogo. Depois de abrir cada caixa, o participante tinha de decidir se continuava jogando ou parava por ali e ficava com todo o dinheiro coletado. No final, todas as caixas eram abertas, mostrando o quão longe os voluntários poderiam ter ido se continuassem no jogo. Isso acontecia porque o arrependimento é caracterizado pela comparação entre “o que é” contra o que “poderia ter sido”. Para induzir o sentimento, os cientistas não tinham apenas que mostrar o resultado de suas escolhas, mas também as oportunidades perdidas. 
Quando os jovens e os idosos depressivos viam que poderiam ter ganhado mais dinheiro, eles encaravam mais riscos na rodada seguinte. Com os idosos saudáveis, isso não acontecia. Ao analisar a atividade de regiões cerebrais envolvidas com o sentimento de arrependimento e a regulação das emoções, descobriram que o cérebro dos jovens e adultos depressivos agiu do mesmo modo. Já o cérebro dos idosos saudáveis mostrou um padrão diferente, dando provas de menor arrependimento e mais controle emocional. 
De acordo com os pesquisadores, os idosos saudáveis usavam estratégias mentais para se livrar do problema, como pensar que os resultados do teste eram produto de fatores em que eles não poderiam influenciar, como a sorte. Já os depressivos se culpavam pelos resultados. Como conclusão, os pesquisadores afirmam que treinar as pessoas a usar estratégias mentais para se livrar do arrependimento poderia ajudar a preservar a saúde emocional em idades avançadas.

Fonte: Veja