domingo, 2 de outubro de 2011

Um pouco de Sartre

Um Referencial Filosófico










Jean Paul Sartre nasceu em Paris no dia 21 de junho de 1905 e faleceu em 15 de abril de 1980. Em seus 75 anos de vida dedicados a atividades acadêmicas, Sartre escreveu várias obras entre romances, peças teatrais e ensaios, partindo do estudo da fenomenologia de Husserl e do existencialismo de Heidegger e Jaspers, além da filosofia de Max Scheller e Soren Kiekegaard.



Dentre todas as suas obras, aquela que lhe trouxe fama foi “A Náusea” de 1938, que era um romance escrito sob a forma de um diário onde seu personagem principal descobria na monotonia da vida, o mistério metafísico do Ser: “Tudo é gratuito, o jardim, esta cidade, e eu mesmo; quando acontece da gente se dar conta disso, isso atinge a cabeça e tudo começa a flutuar, eis a náusea”. Este romance contém em suas páginas grande parte das posições filosóficas que Sartre continuaria a desenvolver durante sua vida.



Em 1943 publica sua obra magna, obra fundamental da teoria existencialista: “O Ser e o Nada”. Nesta obra Sartre aprofunda o seu pensamento no que diz respeito à consciência humana como sendo um “nada” em oposição ao Ser. A consciência enquanto “não-matéria” escapa a qualquer determinismo, “nadifica” seus objetos negando, por essência, as coisas em-si-mesmas. Postula também que precisamos essencialmente do outro para que possamos nos conhecer plenamente; o outro seria um “mediador indispensável entre mim e mim mesmo”, e esta relação seria permeada pelo conflito.



Sartre não foi o primeiro pensador existencialista, mas certamente foi o primeiro que assumiu esta condição. Dizia que sua filosofia era uma filosofia da existência posto que, em sua concepção, esta precedia a essência e não era pré-determinada por nada e nem por ninguém; o homem realizaria o próprio projeto de sua existência – você é o que você faz de si mesmo e não o que os outros fazem de você. E quando afirma que a existência do homem precede sua essência explana a idéia de um homem que se apresenta no mundo sem qualquer projeto pré-concebido. Desta forma, não havendo tal essência, todos são iguais e igualmente livres para se fazerem.



Condenado à liberdade; esta era uma das maneiras que Sartre via o homem. Tendo em vista que nada nem ninguém o pré-determinava, o homem não poderia desculpar-se nas circunstâncias, na paixão ou em qualquer outra coisa, pois nada o força a fazer o que faz; nem mesmo Deus, que desta maneira para Sartre,não existia. O homem está só e é, por definição, livre.



Em conseqüência disto, resta a esse homem livre e solitário, na medida em que se torna consciente desta condição, o sentimento de angústia. Angústia frente às conseqüências de suas decisões, frente a imprevisibilidade do próprio comportamento. Porém há uma situação em que este homem se coloca, para tentar escapar da ansiedade e desta angústia; fingindo. Fingindo que não temos liberdade de escolha, fingindo que não temos opção, fingindo que o meio em que vivemos é a causa de nossas atitudes, fingindo que as circunstâncias nos levam a determinadas decisões e escolhas. Desta forma, segundo Sartre, estamos agindo de “má fé”. A “má fé” não é mais nada senão a tentativa de fugir da liberdade. E o que queremos, em realidade, não enxergar numa situação dessas, é que não existe fuga possível da angústia de liberdade, pois a fuga da responsabilidade já é em si uma escolha. “Nenhum motivo ou resolução passada determina o que fazemos agora”; cada momento de nossas vidas requer uma escolha nova ou renovada, requer um não se deter, um arriscar-se, um comprometer-se, um envolver-se. Com este pensamento Sartre rejeita o determinismo psíquico postulado por Freud e a noção de inconsciente, pois até a suposta verdade de que temos conteúdos inconscientes seria de certa forma uma escolha consciente, ainda que em outro nível.



Dentro de todas essas premissas do pensamento deste filósofo do início do século XX, vemos claramente uma das bases filosóficas da Gestalt Terapia e muito de sua visão de homem. A idéia da Gestalt é a de que o homem é e existe como principal norteador de sua existência, responsável por sua vida e suas escolhas, e não aceitando atribuir culpas a passados deterministas. Somos o que escolhemos ser.



O existencialismo, bem como a Gestalt, fala de um homem singular, sendo e agindo de maneira única. Visto que não é determinado por uma essência, não há (e nem poderia haver) pré-conceitos ou pré-julgamentos e nem tão pouco desculpas. Com tudo isso, àquilo que a Gestalt Terapia se propõe é colocar o homem como autor de seu próprio projeto existencial, sustentado pela ação da liberdade, pela awareness, pela escolha responsável e pela responsabilidade por suas evitações, para que assim, este mesmo homem possa encontrar, através do ajustamento criativo ao meio e da auto-regulação, sua realização neste mundo pelo pleno desenvolvimento de suas potencialidades, capacidades, desejos.

A Gestalt pretende ser uma filosofia ou pedagogia de vida que valoriza o homem justamente em sua diferença, singularidade e aspecto relacional; daí sua perspectiva de enfatizar o processo em detrimento da busca de essências, o “como” em detrimento do “porquê” e o aspecto potencial transformador do homem em detrimento do determinismo passado da psicanálise de Freud, valorizando a experiência vivida e a awareness como tomada de consciência desta experiência atual, aqui e agora, reabilitando a percepção emocional e corporal. “O Ser só pode de fato, ser compreendido por ele mesmo através de uma experiência direta do seu ser-no-mundo”.



A visão existencial proposta pela Gestalt Terapia coloca a liberdade do homem como um de seus pontos principais, porém uma liberdade que não é absoluta, pois este homem está inserido em um mundo concreto que possui regras, normas. Esta abordagem terapêutica visa compreender a vivência de cada pessoa captando o seu modo de existir, o seu lugar no mundo, desenvolvendo uma perspectiva unificadora, integrando as faces sensoriais, afetivas, espirituais, sociais e intelectuais deste homem que terá sempre a liberdade de escolha, sempre algo a ser construído, sempre a possibilidade de modificar a história.













“O que fizeram do homem são as estruturas, os conjuntos significantes estudados pelas ciências humanas. O que ele faz é a própria história...” Sartre.

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