domingo, 19 de maio de 2013

Trabalho X Pânico

Se você se identificar de alguma forma com uma dessas histórias abaixo, CUIDE -SE!  O Pânico, a Depressão, a Síndrome de Burnout podem ser incapacitantes, mas há como evitá-los ou pelo menos ficar atento aos indicativos dos exageros no trabalho que podem levar ao surgimento dessas patologias.

Procure um Psicólogo.



"Paulo tinha acabado de assumir a posição de Gerente Financeiro de uma grande empresa. Passados menos de três meses, dado o stress em que se encontrava, uma certa manhã quando chegou na empresa para trabalhar e estacionou seu carro, travou. Simplesmente não conseguia sair do carro, nem mesmo tirar as mãos do volante. Ficou lá quase uma hora, até que notaram que havia algo de errado com ele. Foi removido por paramédicos, medicado e afastado do trabalho. Duas semanas depois, pediu demissão.
Márcia era gestora de uma empresa de serviços. Seu ritmo de trabalho aumentou significativamente depois de uma fusão com outra empresa. Certo dia, Márcia surtou. Largou bolsa aberta, computador ligado, chaves do carro em cima da mesa, agenda e tudo mais. Pegou o elevador e saiu vagando pela rua, no meio dos carros, em uma grande avenida de São Paulo. Foi acudida por colegas, que viram que algo não estava bem. Pouco tempo depois, deixou a empresa.
José é médico. Durante o período em que trabalhou em Porto Alegre, estava numa das fases profissionais mais intensas de sua vida. Um dia, no meio do ritmo alucinado de plantões, atendimentos e grupos de estudo, se sentiu mal no final da tarde, com um pouco de febre. Cancelou suas atividades naquela noite e foi para a cama. Dia seguinte, acordou ótimo. Trabalhou intensamente o dia todo, e no final da tarde, febre e mal-estar novamente. No terceiro dia seguido dos mesmos sintomas, foi procurar ajuda. Descobriu que estava com leptospirose, mas seu ritmo o havia impedido de perceber sintomas em si mesmo que seriam relativamente óbvios para um médico. Mudou drasticamente o ritmo, se tratou, saiu de Porto Alegre.
Claudia era representante de vendas e estava no auge de uma temporada muito concorrida de metas e desafios. Foi ao banco para sacar dinheiro depois de um dia especialmente difícil. Saiu do banco, entrou no carro e… branco total. Não conseguia lembrar onde era sua casa, qual seu telefone, qual o celular do marido. Ficou dentro do carro, soluçando, muito nervosa. Horas depois, o marido ligou preocupado para o celular dela e notou que nada estava bem. Com jeito e cuidado, começou a perguntar onde ela estava, o que tinha à sua volta, etc. Conseguiu encontrá-la e foram para casa. Dia seguinte, médico, medicação tarja preta e afastamento do trabalho por meses. Algum tempo depois, mudou de emprego.
Bernardo era gerente de uma empresa do segmento de entretenimento do Sudeste. 2ª feira de manhã, chegando em Congonhas com seu chefe para uma bateria de reuniões, desabafou nervosamente que precisava muito ir ao banheiro (para o “número 2”), pois se não fosse naquele momento, não iria mais. Na verdade, ele só ia ao banheiro uma vez por semana, na 2ª feira de manhã…
Todas as histórias acima são absolutamente verdadeiras. Apenas troquei os nomes, segmentos de atuação das empresas  e eventuais localidades, para proteger a anonimidade de seus protagonistas. São testemunhais que mostram aonde podemos chegar com o desequilíbrio causado pelo trabalho, com o stress, com a ansiedade excessiva, com o descontrole, com o pânico.
Trabalho deve ser fonte de satisfação, de renovação, de crescimento, de aprendizado, de remuneração. O trabalho nos faz melhores, úteis, atuantes. Nos molda, nos direciona, nos socializa, nos impõe desafios, vitórias, derrotas, aprendizado. Uma vida com trabalho é uma vida melhor, mais produtiva, com mais significado. Mas quais os limites para o trabalho e seus excessos?
Me refiro aos limites humanos mesmo. A Sindrome de Burnout, descrita pelo médico americano Herbert Freudenberger em 1974, resume o quadro como esgotamento físico e mental. Burnout, em inglês, significa esgotamento, destruição total pelo fogo (segundo oMichaelis). Não tem jeito: chega um ponto em que todos nós, profissionais ensandecidos (mas seres humanos), podemos simplesmente ser apagados, como velas. Seja por defesa do organismo, seja por ultrapassagem total dos limites. O fato é que podemos pifar.
O stress tem um lado bom (eustress), que nos provoca, nos coloca na ponta dos cascos, nos estimula e nos põe em alerta. Neste cenário, somos mais produtivos. Mas há o lado ruim (distresse) que traz o cansaço, o esgotamento, o torpor, o isolamento, a baixa produtividade.
Temos, no cenário atual de mercados cada vez mais competitivos, duas dimensões fundamentais na seara corporativa relacionadas a este assunto: a dos profissionais e a das empresas.
Os profissionais precisam aprender a reconhecer seus limites, a buscar mais equilibrio entre sua vida pessoal e profissional, a cuidar da alimentação, a combater o sedentarismo, a criar tempo de qualidade com a família, a se desconectar da tecnologia fora do trabalho. Precisam ser mais produtivos no trabalho justamente para poderem ter mais tempo fora do trabalho. Ao buscarem este equilíbrio (que é muito difícil, e portanto, um desafio diário e perene), se renovam, descansam intelectual e fisicamente, e se tornam inclusive mais produtivos no trabalho. E um ciclo virtuoso pode se iniciar.
Já a perspectiva das empresas é dupla: primeiro pela necessidade de oferecer um ambiente minimamente saudável para seus colaboradores, que respeite os limites humanos e promova o equilíbrio entre produtividade e qualidade de vida. Isto tem impacto na retenção e atração de talentos, a médio/longo prazo. Se a motivação não for verdadeira pelas pessoas, ou mesmo motivada por uma posição de destaque nos diferentes rankings de melhores empresas para trabalhar, que seja financeira. Pois é fato que as empresas estão perdendo dinheiro ao passarem do ponto de exigência de seus colaboradores. Os custos são crescentes e ligados a afastamentos médicos, absenteísmo, presenteísmo (baixa produtividade de quem está ativo no trabalho), turnover, custos de treinamento, custos de atração de novos profissionais, passivos trabalhistas, majoração de custos variáveis como o SAT e os planos de saúde corporativos, entre outros.
Assunto espinhoso este do stress, quando analisado pela perspectiva do excesso, do abuso, dos limites ultrapassados. Muito se fala em qualidade de vida e bem estar, dentro de uma ótica de mimos ou objetos decorativos nos ambientes das empresas para desestressar os colaboradores. Mas é preciso ir muito além disso. Precisamos de iniciativas e estratégias sustentáveis dentro das empresas, de políticas reais e valorizadas pelas organizações, de respeito rotineiro, tangível e sustentável pelos profissionais, pelas pessoas.
Para que os Paulos, Márcias, Josés, Claudias, Bernardos e tantos outros, de tantas outras historias e testemunhais que sigo coletando sobre o tema, possam ter no trabalho a realização, a remuneração, o respeito e o resultado que merecem.
Em suas vidas profissionais e pessoais"

Fonte: Exame.com




3 comentários:

  1. precisamos tratar da cabeça, antes que ela consiga adoecer o corpo...

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  2. Destas histórias, conheço duas semelhantes e outras duas que posso relatar. Ao saber de uma aposentadoria precoce, minha sogra teve um AVC, devido à rotina de mais de 30 anos dentro de uma empresa multinacional. No primeiro dia de sua aposentadoria, chegou ao hospital e hoje tem sequelas. Outro caso, mais dramático, ao saber que perderia um emprego por questões de corte de gastos, o avô de minha filha ficou paralisado em sua mesa de trabalho. Aos 69 anos, dedicados sua maioria a esta empresa, foi socorrido e levado a um hospital. 2 meses depois, faleceu, sem falar uma palavra.
    quanto a questão do "banheiro", conheço 4 pessoas que possuem as mesmas características. Vão ao banheiro apenas em dias específicos. Por fim, o meu relato. 1. Certa vez acordei pela manhã e quando notei estava na praia (que fica há 100 km de onde moro), sendo que a empresa ficava há pouco mais de 6 Km e nada tinha a ver com a praia. Não consigo me lembrar o caminho que fiz. Estou partindo para uma "regressão " para ver o que houve. 2. acordava chorando desesperado que não queria ir trabalhar, mas minha esposa me consolou. Isso durou 3 meses, todos os dias. 3. Por fim, era comum acordar aos domingos no mesmo horário que acordava durante a semana, me vestia, saia para trabalhar mas notava que o movimento era pequeno, ou, quase nenhum. Daí me dava conta do dia da semana que era. Voltava para casa. Minha esposa se acostumou com isso e hoje, quando acordo ela avisa: hoje é domingo.

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    1. Anonimo, realmente seu caso precisa de uma atenção especial.... Procure ajuda mesmo. Boa sorte e cuide-se! Abçs, Claudia.

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