sábado, 3 de setembro de 2011

A quem mais interessar....


Continuando os esclarecimentos sobre a Gestalt...




A História da Gestalt Terapia. - Uma Inquietação




Uma nova teoria, uma nova visão, novos conceitos, um novo olhar sobre algo, surge sempre de uma inquietação. Uma pessoa ou um grupo de pessoas em face de algo instituído e em não concordando ou em não se sentindo “confortável” com aquilo, procura formular hipóteses e buscar confirma-las, cria idéias, conceitos para que “aquilo” se torne mais de acordo com sua expectativa. É necessário contestar, é necessário um olhar crítico para que surjam novas teorias.



E assim foi também com a Gestalt e aquele que a criou – Fritz Perls. Em um dado momento o médico neuropsiquiatra e psicanalista discípulo de Freud, Fritz Perls, se viu tomado por uma inquietação – algo que, aliás, lhe era muito peculiar – e inspirou-se a escrever um artigo sobre “Resistências Orais” para ser apresentado no Congresso Internacional de Psicanálise em Praga. Era 1936 e um ansioso Fritz viu seu tão esperado encontro com Freud transformar-se numa grande frustração dada sua frieza. Seu trabalho apresentado neste congresso também não foi bem aceito por seus colegas.



A inquietação continuava. Perls e alguns colaboradores não estavam satisfeitos com a forma como a psicanálise encarava os homens e suas questões. Partindo daí eles mergulharam profundamente em um novo universo em busca de embasamento para comprovar que homem e meio não poderiam ser vistos de maneira distinta.



Em 1940 Perls publica o livro”Ego, Fome e Agressão” onde se via claramente a influência do holismo e a citação do nome de Jan Smuts. Deste momento em diante, para formular – ou redescobrir - sua teoria Perls passeou pelos campos da Teoria Organísmica de Goldstein, Teoria de Campo de Kurt Lewin, da Psicologia da Gestalt e do já citado Holismo de Smuts.



Da Teoria Organísmica de Kurt Goldstein, Perls pegou a idéia de organismo total, ou seja, homem e meio em co-existência; organismo compreendido como sistema que busca constantemente o equilíbrio de maneira dinâmica. O organismo tem a capacidade de se auto-regular para responder da maneira mais satisfatória possível às demandas do meio, bem como suas necessidades internas.



Dos estudos de Kurt Lewin sobre a Teoria do Campo, podemos ver que a Gestalt Terapia utilizou a base do conceito de campo, os conceitos de contato e fronteiras de contato trazendo maior destaque para o papel do contexto no entendimento dos processos psíquicos. Importante ressaltar que a influência que o sujeito exerce sobre o meio é recíproca; um modifica o outro concomitantemente. Outro fator retirado da Teoria de Campo de Lewin foi a noção de contemporaneidade segundo a qual nem fatos passados nem futuros podem servir como explicação para situações presentes; o campo psicológico do sujeito seria composto pela expectativa do futuro e pelas lembranças do passado vividas no momento presente.



Já as contribuições vindas da Psicologia da Gestalt que se desenvolveu inicialmente através do estudo das percepções pelo método fenomenológico, foram muito relevantes. A noção de que o todo não é igual a soma de suas partes, a noção de figura e fundo e pregnância são alguns dos conceitos utilizados por Perls na estruturação de sua teoria.



O Holismo de Jan Smuts, como já falado anteriormente, teve uma forte influência no pensamento de Perls, sendo esta teoria definida por seu autor como uma “tendência sintética do universo de evoluir através de todos”.O termo awarness largamente empregado por Perls, foi primeiramente postulado por Smuts como a capacidade que o sujeito tem de se auto-conscientizar pelo desenvolvimento de suas funções mentais propiciando então poder de liberdade e controle sobre seus atos.



Perls afirmava que a Gestalt Terapia deveria ser entendida como uma visão de mundo e, assim como Smuts acreditava que só através da liberdade o homem poderia se libertar de “uma cadeia de determinações causais” e tomar para si as rédeas de sua vida, ou seja, mudar efetivamente sua vida de maneira consciente e auto-regulativa.



Como estamos vendo muitas foram as influências de Perls para a formação da teoria da Gestalt Terapia. E não pára por aí; a base filosófica na fenomenologia de Hurssel e no existencialismo de Sartre e Merleau Ponty, a inspiração na filosofia oriental (Zen) que experimentou em uma de suas viagens completam o pensamento deste homem que em 1951, com a contribuição de Ralf Hefferline e Paul Goodman, lança oficialmente o primeiro livro chamado”Gestalt Therapy” marcando assim o início de uma nova jornada.



A Gestalt Terapia, nome escolhido após inúmeras discussões sobre o tema e que não conseguiu agradar a todos envolvidos na época, começa a se desenvolver de maneira mais concreta nos EUA com a criação de institutos e a contribuição de vários terapeutas que ajudaram “emprestando” suas idéias e técnicas. Fato que ocorreu através das viagens feitas por Fritz dentro dos EUA a fim de difundir a Gestalt.



Por volta de 1964 Fritz instalou-se em Esalen, uma propriedade na costa da Califórnia, e fez dali seu lugar para ensinar e experienciar a Gestalt, que teve seu ápice coincidindo historicamente com o movimento de 68, atraindo os olhares e ouvidos do mundo e de vários especialistas em diversas áreas que encontraram ali um terreno fértil para o desenvolvimento e aprimoramento de suas idéias e técnicas.



Daí, paulatinamente, as idéias de Fritz foram ganhando o mundo e o rebelde e inquieto, finalmente pode vê-las repetidas e respeitadas por todos.



Aquilo que para alguns críticos não passaria de uma colcha de retalhos se tornou uma teoria coesa, respeitada e difundida por todo o lado, vista como uma espécie de filosofia de vida que vê cada homem de maneira original em sua profunda interação com o meio em que vive. Uma prova consistente de que o todo é muito mais do que a soma de suas partes.






Referências Bibliográficas:

Ginger, Serge – Uma Terapia do Contato – Summus, 1995.

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