sexta-feira, 2 de setembro de 2011

Um pouco mais sobre mim....

Em determinando momento de minha vida fiz a opção pela Gestalt Terapia e sei que até hoje a maioria das pessoas sabe muito pouco sobre essa linha teórica da Psicologia.  Há muitas controvérsias (quase mitos) sobre a atuação do gestalt terapeuta.
Mas afinal de contas o que é a Gestalt? De onde ela vem?
Esclarecendo........



Gestalt e Filosofia




Desde os primórdios do homem enquanto ser pensante existem os questionamentos acerca da vida, morte, Deus e deuses, sobre o conhecimento e a essência das coisas; como conhecer, como saber o que é a verdade da existência humana.



O “espanto” inicial do homem faz com que ele duvide daquilo que vê e questione sua realidade.



Começando com Platão e o “mito da caverna” que postula que a verdade está no mundo das idéias e o que vemos são apenas sombras do que lá está (mundo sensível), o pensamento filosófico vem se transformando durante os tempos, privilegiando sempre o intelecto em detrimento do querer.



Até que em dado momento da história surge um pensador que muda a concepção de mundo, natureza e existência através da introdução de um novo conceito: a Vontade de Vida. O princípio do mundo não é o entendimento ou a razão, mas o irracional, cego e inconsciente; o que há de mais íntimo no mundo.



Essa mudança crucial no pensamento do homem vem através do pensamento de Schopenhauer, filósofo alemão nascido em 1788, cuja obra magna se chama “O Mundo como Vontade e Representação”.



Nesse tratado o mundo que se pensa é visto apenas como uma parte; sua outra parte complementar é algo que não se pode pensar, apenas sentir; é a vontade que se apresenta como manifestação da natureza, uma essência fundamental. A razão ficaria apenas no patamar de justificativa para o homem realizar o que quer.



O questionamento inicial é: O que o mundo é que não pode ser pensado? O que é real daquilo que eu percebo? Nesse momento o corpo passa a ser objeto de questão filosófica e se manifesta de uma maneira que não se pode descrever racionalmente; manifesta-se através da vontade. Nesta idéia esta inclusa um pessimismo evidente com relação ao viver, que se expressa na condição finita do homem – um ser transitório e que vai morrer.



Schopenhauer vê também o mundo como representação da realidade, como fenômeno. Quando afirma que o mundo é representação de quem representa, deixa claro que os objetos não existem, mas sim o sujeito que experimenta aquele objeto através de sua sensibilidade.



Em última análise o mundo seria um entrelaçar de representações, fenômenos; uma conclusão do entendimento. Talvez aí possamos ver uma sombra daquilo que seria uma das bases filosóficas da Gestalt Terapia que é a Fenomenologia de Hurssel e posteriormente Heidegger.



Porém há algo mais, algo que é o que realmente distingue homens de animais, algo para além do entendimento: a razão, que tem como função trabalhar as representações do entendimento criando os conceitos. Contudo, para este filósofo, esta faculdade cognitiva é secundária, ela está subordinada às intuições. Pensar – razão + entendimento – seria para o homem apenas um mecanismo de sobrevivência; o essencial está resumido à Vontade como coisa-em –si.



De todo esse pensamento, essa maneira nova de ver o mundo, abre-se um amplo horizonte onde pensar no contraponto entre vontade e a realidade vivida e expressa, alimenta mentes como a de Freud, por exemplo, que revolucionou a psicologia e a forma de se tratar àqueles que se encontravam “psiquicamente doentes”.



É fato notório que F. Perls, considerado pai da Gestalt Terapia, e discípulo de Freud em princípio, discordou veementemente de seus métodos e de parte de sua teoria desenvolvendo uma outra que privilegia o “como” em face do “porquê” de Freud. Mas esse conceito de vontade, de que o mundo não é apenas o racional, mas também o sentido, está presente em toda a psicologia contemporânea independente de linha teórica.



Quando F. Perls afirma que quanto mais o indivíduo tenta viver de acordo com idéias pré-concebidas de como o mundo deveria ser, mais ele se afasta de seus próprios sentimentos e necessidades, ele fala também do contraponto entre o racional e a vontade de vida, ele fala da dor que provoca esta distância que se consuma no bloqueio de potencial e na distorção de perspectiva.



Parece-me que de certa forma Schopenhauer via isto como realidade irrefutável e imutável. Daí o seu pessimismo com relação à vida que pode ser bem retratado em uma frase: “A vida oscila como um pêndulo entre a dor e o tédio”.



Mas aqui não se vê a Vontade de vida como um impulso que joga o homem no confronto direto entre seus desejos inconscientes e a possibilidade interna ou externa de realiza-los, mas sim como a genuína auto-realização através de suas potencialidades.



A possibilidade de o homem entrar em contato com aquilo que realmente é, vai de encontro com os conceitos que por muitas vezes são confundidos com seu potencial, e quando isso ocorre passamos a responder a “deverias” construindo um ideal imaginário, desempenhando papéis e afastando-nos cada vez mais daquilo que realmente somos; justificando-nos. E aí está o sofrimento.



Schopenhauer afirma que só se pode afastar-se deste sofrimento pela contemplação do belo e que essa seria uma experiência próxima ao Nirvana, mas F. Perls, através da Gestalt Terapia coloca a possibilidade real de se viver, através do entrar em contato com suas necessidades partindo da premissa de que o homem tende sempre a procurar supri-las, de se conscientizar de seu potencial.



“Aquele que se auto-realiza, espera o possível. Aquele que quer realizar um conceito, tenta o impossível”.



Referências bibliográficas:

Barboza, Jair – Schopenhauer – Jorge Zahar ed, 2003.

Perls, Fritz & cols. – Isto é Gestalt – Summus ed., 1977.

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